Depois de um longo inverno, cá estou eu de novo, (re)tentando blogar algumas poesias e (ou) pretensas destas. Outro dia, já fazem meses, estava eu no trabalho, aprisionado no costumeiro escritório em que passo a parte mais densa de meus dias e semanas, quando, no meio das atividades rotineiras que lá realizo, brotou em mim uma incomum inspiração e em local mais incomum ainda... Aproveitei-me e, tomando o teclado em minhas mãos, atei-me ao caminho das palavras uma vez mais...
DESERTÓRIO
Preso na tela
O sono protela
Ileso esfarela
Deserto em remela
Ponteiros em sol
Apertam um nó
Retesa-me só
Faz o livre em pó
Assim, dez caminham
Passos repassados num chão
De poucas polegadas se vão
Um, cem, dez caminhos
Qual línqua pisoteada
Diz muito sem falar nada
Um nobre descoroado
Em móvel trono jaz
Sem súditos, sem paz
Em távola aprisionado
Onde corre fiel um rato
Rato preto, não teme gato
Sofrida travessia
Ida sem noite ou dia
Sol de calor que esfria
Em solitária companhia
Findam-se as areias
Decerto, o oásis amado
Ante lesadas veias
Deserto teu grão suado
Sário Ferreira