segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sintai e Assintai

Um profeta, vulgo Aurículus, me diz:
Carro, fungo, folha, tosse, passos, sussurros, alarme, risco.

Um outro, muito visionário, me fala:
Carteiras, quadro, folha, identidade, caneta, borracha, lapiseira, chão, teto e porta.

Um terceiro, em mal estado, tenta me sussurrar:
Congestionamento, ar e mais nada.

Um quarto, meio faminto e acidentado há pouco, me pontua:
Sangue de um corte no céu e saliva.

Um quinto, vestido de peles, me proclama, inquieto:
Testa, lapiseira, aliança, roupas, carteira, papel, chão e brisa.

E um último profeta, vítima e vitimador de todos os outros cinco, me grita:
Ansiedade, saudade, sonhos, tédio, falta de criatividade, vontade de levantar e incômodo.

Em uníssono, dizem os profetas (os meus, pelo menos) que viver é isso:
navegar num mar de nomes sentidos, transitáveis e pluriformes,
e tecê-los um único que se traduz no milésimo de um momento,
multipla e redundantemente, até o deitar sem sentido da mente.

Endoida-te, Ser Humano, pois é teu direito por sentir tanto.

Sinto muito...

Sário Ferreira - 15/07/2012


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Reminiscências d'um Caminho

Lá estava:
fria,
cinza,
não vazia
e lisa,
Imponente
ao impotente.

Lá via:
medo,
volta,
desafiante e
morta.
Pra uns, afronta,
pra outros, porta.

Lá fez:
chorarem,
praguejarem,
agirem,
pensarem,
lembrarem,
descansarem,
voltarem,
contarem
sobre outros arem,
outros irem
e outros que irão.

Lá ficou:
Atrás,
parada,
e na frente,
ali nonada,
no início do meio
dos sonhos inteiros;
no fim do inteiro
dos sonhos meieiros;
no meio do fim
dos sonhos primeiros.

Lá estava, via e fazia:
tudo isso sem força,
ficando,
servil ao caminho
sem mão,
regendo o destino
da direção,
enquanto morta, fascina,
ou enquanto morta, fatiga
tantas outras retinas.

Sário Ferreira - 09/07/2012