segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Paralesia

Ali, milimétrica,
moderou-nos a distância.
Eu queria e ela também,
mas um par de extremidades
afastava pescoços;
a ponte em régua
que nos media a resistência
acalentava a vileza frustrada
que nos conectava,
que nos separava.

A régua da mágoa,
a Regra sobr'água
de lágrimas que não caíram,
que não cairão,
mas que cairiam
se fossem as medidas
distintas, em outro universo
matemático de probabilidades em verso.

Irônico é que a régua que me regra,
aqui, entre devaneios caotizados,
segue a minha régua sem regras.
E cá estou eu, entre ti e seus números:
eis minha vingança,
inofensiva
e incalculada.

Sario Ferreira - 05/11/2012




segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Santa Natureza Humana

Quem dera eu, se eu não morresse em redundância
pra renascer no segundo seguinte,
até o fim de minha vida.
Presos em nossas essências, somos vários em só um,
fadados às paixões contra alvos inabsolutos e inconstantes:
Ser(es) Humano(s)!

Ser(d)es além de humano(s); Ser(d)es Efêmero(s); Ser(d)es Passageiro(s).
– Um rio não banha o mesmo homem duas vezes
(Assim disse um anjo amigo).
O que é junto, se separa
e mesmo o que é junto a ponto de ser santo
fende-se, porque o ser santo é ser separado (mas junto).

Mas não é o fim,
é só uma transição
de um junto a outro,
sem ressentimentos reticentes ou traição,
porque tudo junto é separado
e separado é tudo junto
(segundo a sábia anedota).

É no dividir que realizamos a verdadeira noção do inteiro
que fomos, somos e seremos:
Sejam nas lembranças passadas,
presentes (preciosos!)
ou futuras...

Sário Ferreira - 22/10/2012


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Disfarces

Face para amar
Face a familiar
Face pra amigar
Face a sabiar
Face engana a dor e
Outra Face endoura a trama.

E há no leito da mestra cama
uma Face para o sono,
que faz-se aface, neutra em sonhos
da máscara além da incrua pele.

Face ciente do não ser,
ímpar da consciente superfície.

Vai-te, mente, pro nascer
do mar dormente infictício

Afronta-se a fronte
que é não sendo
e, sob acalento,
desfaz-se.

Sário Ferreira - 05/10/2012


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Inconstâncias de um Virtualista

Marco as dores
Programadas permanente(mente)
Num local sem opções.

Post(e)s sem luz
Agem destitulados
Na pública individualidade
De dedos incoerentes,
À salvo da culpa (e até pela [por ela]),
Manipulados, não pela mão,
Mas pelo Mestre Invisualizável:
que vive no fechado,
isolado e responsável.

Conheça estes primos:
O Escreve e o Escravo...
Homem - Tempo - Mundo - Leem.

No fim, figuram-se ações,
Às luzes ausentes
Dos mesmos Post(e)s
Ativos, Atores,
Altivos, Autores,
Tão vivos, tão flores,
Tão servos, tão dores.

Sário Ferreira - 05/09/2012



segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sintai e Assintai

Um profeta, vulgo Aurículus, me diz:
Carro, fungo, folha, tosse, passos, sussurros, alarme, risco.

Um outro, muito visionário, me fala:
Carteiras, quadro, folha, identidade, caneta, borracha, lapiseira, chão, teto e porta.

Um terceiro, em mal estado, tenta me sussurrar:
Congestionamento, ar e mais nada.

Um quarto, meio faminto e acidentado há pouco, me pontua:
Sangue de um corte no céu e saliva.

Um quinto, vestido de peles, me proclama, inquieto:
Testa, lapiseira, aliança, roupas, carteira, papel, chão e brisa.

E um último profeta, vítima e vitimador de todos os outros cinco, me grita:
Ansiedade, saudade, sonhos, tédio, falta de criatividade, vontade de levantar e incômodo.

Em uníssono, dizem os profetas (os meus, pelo menos) que viver é isso:
navegar num mar de nomes sentidos, transitáveis e pluriformes,
e tecê-los um único que se traduz no milésimo de um momento,
multipla e redundantemente, até o deitar sem sentido da mente.

Endoida-te, Ser Humano, pois é teu direito por sentir tanto.

Sinto muito...

Sário Ferreira - 15/07/2012


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Reminiscências d'um Caminho

Lá estava:
fria,
cinza,
não vazia
e lisa,
Imponente
ao impotente.

Lá via:
medo,
volta,
desafiante e
morta.
Pra uns, afronta,
pra outros, porta.

Lá fez:
chorarem,
praguejarem,
agirem,
pensarem,
lembrarem,
descansarem,
voltarem,
contarem
sobre outros arem,
outros irem
e outros que irão.

Lá ficou:
Atrás,
parada,
e na frente,
ali nonada,
no início do meio
dos sonhos inteiros;
no fim do inteiro
dos sonhos meieiros;
no meio do fim
dos sonhos primeiros.

Lá estava, via e fazia:
tudo isso sem força,
ficando,
servil ao caminho
sem mão,
regendo o destino
da direção,
enquanto morta, fascina,
ou enquanto morta, fatiga
tantas outras retinas.

Sário Ferreira - 09/07/2012

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A vida é vela

A vida é uma vela.

É no olho do velho que vi
que viver é morrer.
Ter pressa pra quê?

Aproveitar a vida nos faz 
desperceber o giro atroz da seta,
que pára (pra nós), no bater do último sino.

Por isso, sou mais chegado ao Spencer que ao Horácio.
Esse frenesi de querer matar o tempo...
Aproveitar a vida é fazê-la mais curta.
No tédio jaz a chave de uma vida rendida, apesar de também morrida.

A escolha do ser humano:
Gozar, saciar as vãs e vis vontades da vida e encurtá-la
ou alimentar-se da monotonia pra sentir cada passo dado, sem curti-la (ou seja, alonga-la). 

Em ambas as escolhas, a certa verdade:
Viver é morrer (Thanks James),
A sina de todos nós, cadáveres adiados (Grato Fernando).
Todo dia, por mais que você vive, você está morrendo.

Então, se não teme, (en)curta a vida...
Mas lembre-se:
Matar o tempo é matar a nós mesmos e,
no fim, o Carpe Diem não passa de um insano suicídio...

Sário Ferreira - 25/05/2012


















Carpe Diem, de Caspar David Friedrich

     To live is to die - Metallica





segunda-feira, 21 de maio de 2012

Dieu Prière (um Triste)

Sade dit-moi
Um homem traça
rumo à desgraça,
devora as páginas
do tomo que é dono
Farta-se do próprio destino
que o abdica ao soar do sino
Sádico, dirá?

Qu'est-ce que tu vas chercher?
Desejas é o desejo
Vossa sina atormentada
de querer ver o que vejo:
pouco, muito, tudo e nada
Avante à estrela incoerente
qual fome em luz que irá arder-te

Le bien par le mal
Maniqueística clemência
cuja cesta recolhe olhos,
secos, chaves em demência,
confusão de dor em molhos:
neles provem o sal

La vertu par le vice
Pecaminosos passos certos
do conflito, o avesso sacro
no perverso pur(o)umano ethos
E tu falta como se risse

Sade dit-moi pourquoi l'evangile du mal?
Bastasse o graal violado de Eva
pelo réptil e fogo suor da treva
Sabe-se: conheça-te a astucia pra ser banal

Quelle est ta religion où sont tes fidèles?
Qual oração chagada estupra a razão
e regenera a lepra de existir: o tão reles?

Si tu es contre Dieu, tu es contre l'homme
Encontra-se o eu para ser contra si!

Sad(ico)e es-t(ou)(em ti) diaboli(co)que (e)ou divin(o)?(!)

Sário Ferreira - 21/05/2012


 
Sadeness - Enigma

domingo, 29 de abril de 2012

Sonnet Unlistened: Unsound

So far, so close
a question flows
inside a head
with silence doubt.

World goes ahead
through furious red,
spreading fault,
cruelty in shine.

The fate is a crime,
strong fragile rose:
a blood burst o'rhyme.

So distant in close,
we keep on being led.
Mute quest made of noise.










Sário Ferreira - 29/04/2012

Ciclo

        Nasce              euq
                                        é
   e                  o                   t
       s                               a
         rerrom       Homem










Sário Ferreira - 28/04/2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

Descartável

Insisto, logo existo.
Existo logo nisto.
Nisto logo inexistirei.
Hei!

(Se é) Logo, logo invisto.
Invisto logo nisso.
Nesse logo que não sei.
Ei...

Não sei, logo saberei.
Saberei logo... logo, não! Cruzes!
Cruzes a ti mesmo, logo ou não, e há de ser
Rei.

Nada, nada,
Nada sei
De cruzes e logos e seres e rei.
Nada deriva do peso dispenso
Que faz-me existir de tanto que penso.

Sário Ferreira - 09/03/2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

Zonódia

João Pestana, acalenta-te a ti próprio e para de incomodar.
Melhor, dorme João e deixa o Pestana ficar,
Com ele e mais seis, cantaremos a ode ao teu fracasso,
No ezcuro, claro, e até o claro vazar em furo
por nuvenz insones, quem você não alcança
E aszim, ainda que insizta no zeu zadizmo,
zimulando difuntoz e cadáverez, vamoz cantar, zerenatar
Zem zezzar, zempre zaindo do zeu dezejo de realizar
a inconzzienzia doz dezpertadoz dezezperadoz.
Inzano, ezorzizar-me doz todoz meuz
Zonhoz de dezdezpertar-me
Zono, ze zuma no zom!
Z..zim? Zzzai! Zai...
Zzzou... zzzeu.
Zzzzzzz.

Sário Ferreira - 07/03/2012

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Penal

É uma pena.
É uma pena que não escreve.
É uma pena que não escreve nem sobre pena.
É uma pena que não escreve nem sobre pena, porque não vale a pena.

Que pena.

Que pena? Tem pena?

Então se pena não há, como a pena escreve sobre uma apena que não está lá?
Apesar da apena, a pena dá conta - ela escreve sobre tantos outros a's...
Porém, o grande problema é que nem essa pena há.
Não há pena alguma.
Ninguem sente a pena.

Apenas,
não há penas.


Sário Ferreira - 16/02/2012.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ao novo ano novo

Que seja mais, apesar de me subtrair os anos
Que seja jovem, apesar do próximo fazê-lo velho
Que seja amável, apesar dos prováveis pesares
Que seja  afável, apesar dos incertos ares 
Que seja  zen, apesar de inverter o que eu espelho
Que seja paz, apesar de trair-me os planos

Que seja, que seja, quer seja...
Veja, seja como seja, seja
Os apesares pesam, mas não estragam a balança
E se a nota é boa ou ruim, tua música faz nossa dança,
Na qual passo o passo a passo dos anos velhos,
Tropeçando nos pesares de ares que fogem ao espelho (inperfeito),
Isentos de reflexos e reflexões, repentes fora dos planos.
Ora lentos, conexos, flexões pendentes que rasgo nos panos.

Então que seja novo, novamente
E que novamente seja nova,
Até que as cinzas sombrias do novo novo
Ponham-lhe a virgem cronicidade à prova.

Sário Ferreira - 16/01/2011